terça-feira, 9 de junho de 2015

Breve Vida

Texto escrito em 09 de agosto de 2011.

Se tem algo que me deixa completamente assustada é a morte. Tão inevitável, apavorante e impiedosa. Me assombra e me tira noites, me deixando a pensar. Com os meus dezoito anos recém completados, não imagino que ela possa me encontrar num futuro próximo, mas como bem diz o dito popular, "para morrer, basta estar vivo". E ouço histórias das mais inacreditáveis possíveis, de pessoas sem nenhuma doença aparente, cheios de saúde, morrer da noite para o dia, sem qualquer explicação. 

Daí venho a me questionar: e se acontecesse comigo? Agora, repentinamente? Eu, com um futuro promissor, grandes sonhos a serem realizados, cheia de ambições, desejos de carreira e um tempo pouco vivido com muito a ser aproveitado, deixando a vida com grandes lacunas que nunca virão a serem preenchidas. Como as pessoas reagiriam?

"Ela tinha muito para viver... Uma menina com um futuro lindo pela frente". Talvez fosse o que elas mais falariam. E até chorariam inconformadas. "Ela tinha apenas dezoito anos". Frisariam bem a palavra apenas, para deixar claro que eu tinha vivido pouco. Mas e o que eu vivi? Será que não conta? Vivemos tanto na base do planejamento que não damos tanta importância ao que passou. O que eu tinha sido para elas? O que eu tinha significado, então? Será que o que eu fui não era mais importante do que eu ainda seria?

Talvez os mais próximos, depois de algum tempo, se dessem conta da falta física que eu viria a fazer. Os abraços, os carinhos, os beijos, as minhas palavras. Nada disso seria eternizado e faria uma grande falta, mas isso só viria a ser percebido com o tempo. Talvez até quando isso viesse a acontecer as minhas escritas ganhassem mais importância, seria a parte de mim que ficou. Meus pensamentos até ganhariam uma outra conotação de tempo, bem maior, muito provavelmente. 

Enquanto tudo isso não fosse percebido, as pessoas continuariam a chorar e à se lamentar. A  minha idade seria repetida por inúmeras pessoas e por inúmeras vezes. O futuro, que talvez eu viesse a ter, seria planejado por várias pessoas e de várias formas. Os meus desejos fariam mais lágrimas caírem. A minha futura e nunca existente vida conjugal seria falada por corações apertados. Os meus quase-futuros filhos seriam lamentados por nunca vir a nascer. Toda uma vida seria contada de uma forma inédita, como nunca ouviram e como nunca eu vivi. Tudo isso porque se eu morresse, as pessoas chorariam pelos meus sonhos.


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Passado o presente

Eu não sou isso que você vê,
Eu não sou essa mente que não crê.
Eu não sou esses olhos perdidos,
Eu não sou esse cabelo sem brilho.
Eu não sou esse corpo que não come,
Eu não sou essa pessoa que não sente fome.
Eu não sou essa vida que não entende,
Eu não sou esse corpo doente.

Eu sou o terrível sofrimento
Eu sou todo desencantamento
Eu sou a raiva e o desespero
Eu sou a angústia por inteiro

Eu sofro sem sentir
Eu choro sem nem mais pedir
As tristes lágrimas percorrem seu caminho,
Impedindo que eu possa sonhar sozinho

Eu não era isso até a minha sombra,
Eu ria achando que ia dar conta
Do meu futuro, da minha vida
Das minhas palavras, das minhas idas

Hoje não sei se mais importo
A minha frieza vai até que ponto?
Não sou isso que você vê...
Sou mais do que a vida achou que devia ser...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

E a lua continuava à brilhar

Olhava a lua que iluminava a mim e a toda noite fria. Deitada na grama, pensava em como aquela madrugada estava tranqüila. Meu corpo aos pouco ia ficando com uma temperatura uniforme, se adequando ao ambiente e me congelando por dentro, e dessa vez, eu não me importava mais. Chorei feliz, querendo esquecer a dor que sentia. Chorei, não mais pelo que perderia, mas pelo que vivi. A grama verde espetava meus braços nu, meu cabelo fazia pequenos desenhos naquele tapete verde que eu me encontrava deitada, minha cabeça insistia em latejar e meus olhos, esses estavam se perdendo num outro mundo.
O que é viver? Essa pergunta ecoava na minha cabeça confusa. Será que eu tinha vivido mesmo? Outra pergunta sem resposta... Mexi as pernas quase sem força e sentia a grama suavimente alisar meu corpo frio.
Senti meu corpo ser empurrado para frente por aquele que eu um dia disse que morreria para amá-lo. E de fato o faria. Ele me deitou em seu colo sem falar absolutamente nada. Senti uma forte dor percorrer por todo o meu corpo. Eu sabia que não agüentaria muito dalí para frente. É o ciclo da vida, não chora, é o ciclo da vida, pessoas vão e vem, é o ciclo da vida. No entanto não entendia, por que eu temia tanto a morte? Apertei forte a mão dele e pressionei meus olhos, me contorcendo de dor. Os ventos continuavam a soprar meu rosto e a chuva, que começaria a cair, molharia a mim por algum tempo. Começaria fraca, no meu rosto, uma chuva salgada, cheia de emoções, daí em diante, as nuvens teriam um novo papel de continuar a molhar. Talvez isso durasse horas, dias ou até alguns meses. E os pássaros continuariam lá, livres, alguns morreriam, uns nasceriam, nada disso deixaria de acontecer. O que eu era, então? Um nada? Eu não fiz nada de importante? Talvez não para o que é a grandeza da Terra.
Fechei meus olhos tranqüila e ouvi o cantar dos corvos e gemer dos ventos. Meu corpo já se encontrava plenamente frio, estava com a mesma quantidade de calor que aquela noite gélida. Minha pele branca e pálida ainda deitada na grama, se acomodava, finalmente. E com um beijo de despedida ele me deixou lá. Estirada num verde escuro quase desaparecido pela lua que já se despedia. Era a despedida, um último gesto, um adeus. O beijo por um amor intenso, o beijo que eu me lembraria. O último beijo antes que ele me deixasse lá. Morta

sábado, 19 de novembro de 2011

Saudade: "Onde está?"

Talvez eu quisesse não ter idade suficiente para compreender tal sentimento. Talvez eu quisesse não sofrer tanto. Talvez eu quisesse ser capaz de apagar todas as minhas lembranças, mas mesmo que de fato o fizesse, eu ainda seria capaz de sentir saudades...

A vida nos faz viver momentos cruéis e nos obrigam a nos desligar de pessoas que se nos perguntassem, nunca conseguiríamos abrir mão delas. Infelizmente não estamos aptos para da noite para o dia dizer adeus definitivamente. E ,talvez por esse motivo, não consigamos tal feito. Por mais que a vida nos leve a um ponto final, para os que ficam, o ponto final nunca é de fato um final. Digamos que ponhamos um ponto e virgula, ou até um ponto de continuação. A saudade é a explicação mais pertinente para essa tese baseada no meu achismo. Sentimos saudade por que ainda levamos aquele amor com a gente, é como se a pessoa tivesse, na forma mais leve de dizer, fechado os olhos e deixado um pouco dela com a gente e por mais que tentem nos fazer compreender que aquilo foi um final, não foi. Ainda somos capazes de carregá-las dentro dos nossos coraçoes.

Saudade é sentir uma necessidade absurda de dar um abraço sem poder, um dor forte e inexplicável no peito e saber que aquilo não tem patologia, é querer dar um simples telefonema para um número que não mais existe, é querer rir com alguém que não pode mais, é querer contar do seu dia, dos seus planos, sabendo que tristemente isso se tornou irreal. Saudade é querer saber do que não existe, é sentir cheiros, ouvir palavras e tudo isso trazer lembranças que fazem crescer um nó enorme na garganta, saudades é saber que o que se sente não é uma ilha cruel, mas um continente com dimensões que extrapolam o tamanho do globo e que consomem a alma por inteiro. Saudades é não se conformar dizendo que foi o final, mas olhar para os lados sem entender e se repetir inúmeras vezes "onde está?". Sentir saudades é ter raiva por saber que seu coração não teve capacidade de se despedir e se sentir pequeno por isso. E depois disso refletir e entender por que que não existiu alguém que pôde de fato definir com exatidão tão triste e urgente sentimento.