segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Passado o presente

Eu não sou isso que você vê,
Eu não sou essa mente que não crê.
Eu não sou esses olhos perdidos,
Eu não sou esse cabelo sem brilho.
Eu não sou esse corpo que não come,
Eu não sou essa pessoa que não sente fome.
Eu não sou essa vida que não entende,
Eu não sou esse corpo doente.

Eu sou o terrível sofrimento
Eu sou todo desencantamento
Eu sou a raiva e o desespero
Eu sou a angústia por inteiro

Eu sofro sem sentir
Eu choro sem nem mais pedir
As tristes lágrimas percorrem seu caminho,
Impedindo que eu possa sonhar sozinho

Eu não era isso até a minha sombra,
Eu ria achando que ia dar conta
Do meu futuro, da minha vida
Das minhas palavras, das minhas idas

Hoje não sei se mais importo
A minha frieza vai até que ponto?
Não sou isso que você vê...
Sou mais do que a vida achou que devia ser...

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

E a lua continuava à brilhar

Olhava a lua que iluminava a mim e a toda noite fria. Deitada na grama, pensava em como aquela madrugada estava tranqüila. Meu corpo aos pouco ia ficando com uma temperatura uniforme, se adequando ao ambiente e me congelando por dentro, e dessa vez, eu não me importava mais. Chorei feliz, querendo esquecer a dor que sentia. Chorei, não mais pelo que perderia, mas pelo que vivi. A grama verde espetava meus braços nu, meu cabelo fazia pequenos desenhos naquele tapete verde que eu me encontrava deitada, minha cabeça insistia em latejar e meus olhos, esses estavam se perdendo num outro mundo.
O que é viver? Essa pergunta ecoava na minha cabeça confusa. Será que eu tinha vivido mesmo? Outra pergunta sem resposta... Mexi as pernas quase sem força e sentia a grama suavimente alisar meu corpo frio.
Senti meu corpo ser empurrado para frente por aquele que eu um dia disse que morreria para amá-lo. E de fato o faria. Ele me deitou em seu colo sem falar absolutamente nada. Senti uma forte dor percorrer por todo o meu corpo. Eu sabia que não agüentaria muito dalí para frente. É o ciclo da vida, não chora, é o ciclo da vida, pessoas vão e vem, é o ciclo da vida. No entanto não entendia, por que eu temia tanto a morte? Apertei forte a mão dele e pressionei meus olhos, me contorcendo de dor. Os ventos continuavam a soprar meu rosto e a chuva, que começaria a cair, molharia a mim por algum tempo. Começaria fraca, no meu rosto, uma chuva salgada, cheia de emoções, daí em diante, as nuvens teriam um novo papel de continuar a molhar. Talvez isso durasse horas, dias ou até alguns meses. E os pássaros continuariam lá, livres, alguns morreriam, uns nasceriam, nada disso deixaria de acontecer. O que eu era, então? Um nada? Eu não fiz nada de importante? Talvez não para o que é a grandeza da Terra.
Fechei meus olhos tranqüila e ouvi o cantar dos corvos e gemer dos ventos. Meu corpo já se encontrava plenamente frio, estava com a mesma quantidade de calor que aquela noite gélida. Minha pele branca e pálida ainda deitada na grama, se acomodava, finalmente. E com um beijo de despedida ele me deixou lá. Estirada num verde escuro quase desaparecido pela lua que já se despedia. Era a despedida, um último gesto, um adeus. O beijo por um amor intenso, o beijo que eu me lembraria. O último beijo antes que ele me deixasse lá. Morta